sábado, 13 de julho de 2013

O fardo do crescimento

Região do Vale Europeu. Fonte: Santur
Desde sua fundação, Blumenau tomou para si a posição de pólo macrorregional. No início era pólo de uma área que compreendia praticamente todo o Vale do Itajaí a ponto de fazer divisa com Lages ! Desmembramento após desmembramento, continuamos com nosso papel de "líder regional" e centro de uma região metropolitana que no século XX chegou a ser a mais desenvolvida, inovadora e pujante de SC. Blumenau era como um bebê com um futuro mais do que promissor, instalada em uma região com grande riqueza ambiental e colonizadores vindos de um país em boa situação e com gente trabalhadora. 
Tal qual uma adolescente que precisa pensar na profissão que deseja exercer no futuro, nossa cidade se vê diante de alguns desafios que podem significar uma vida adulta tranquila e planejada ou uma velhice em decrepitude e decadência.
Dói crescer ! Mudanças são necessárias, perdemos coisas e pessoas balizavam nossa vida, temos escolhas a fazer. Vejo Blumenau nessa fase desde o início dos anos 90, com a abertura do mercado para os importados. Doeu muito ver que não estávamos preparados para concorrer com os tigres asiáticos. Doeu ver nossa miopia industrial fazer sofrer indústrias grandes, nossas "intocáveis" e seus milhares de empregados aninhados nas "companhias" ora indestrutíveis, e que pararam no tempo e na inovação. Tal qual o adolescente que sai para as primeiras festas para procurar sua cara-metade e vê seus concorrentes muito mais bem vestidos, com vestimentas impecáveis, carro da hora, papo envolvente e grande experiência em conquistas. Assim foi Blumenau no início daqueles dolorosos anos.
Após passar por essas dificuldades, essa adolescente está aprendendo a se vestir de forma adequada, aumentou suas habilidades em várias áreas, que ainda tem sua característica de "fazer bem feito, tal qual faziam nossos bravos colonizadores".
Blumenau agora passa pela transformação típica da adolescência : sua voz muda, espinhas aparecem, músculos ficam definidos. Assim nossa malha urbana também está mudando : a cidade se verticaliza para se adaptar à seus desafios naturais, as enchentes e deslizamentos. Novas vias são abertas, embora atrasadas, para tentar absorver tantos veículos. O poder público tenta ao máximo captar verbas para financiar o crescimento de um pólo regional que muda rapidamente. 


Existe um enorme fardo ao crescer. Muitos reclamam que Blumenau está ficando parecida com a maioria das cidades médias brasileiras, sem nenhum atrativo nem diferencial. Esse é um dos fardos junto com a diminuição da qualidade de vida e insegurança.
Não é fácil crescer e não esquecer o que você era e do que gostava. Aí entram os grupos de tradições, de caça e tiro, das últimas construções originais que lembram nossa origem germânica, de nossas festas típicas e de nossa hospitalidade. Ok, há divergências quanto à hospitalidade. Nós algumas vezes torcemos o nariz para os turistas, mas sabemos que são importantes e os aceitamos mais para alimentar nosso orgulho do que efetivamente ser fonte de renda para muitas pessoas.
Esse embate entre a Blumenau bebê e adolescente é saudável e é maravilhoso. Qual pai não deseja ver seu rebento crescendo e desenvolvendo ? Há dores, é lógico. Mas os lados positivos de ser pólo regional são muito maiores do que os negativos.
Sempre haverá quem não se conforma com esse crescimento e quer manter a cidade do mesmo jeito que era há 30, 40 e 50 anos atrás. Saudosismo é bom, quem não gosta de sentí-lo ? Porém cercear a cidade do seu natural crescimento e desenvolvimento não é amar a cidade. Ou amar de forma egoísta. Se uma cidade é boa, que seja boa para muitas pessoas. Vale lembrar que sempre existirão cidades mais "bucólicas" e que tem as características que as pessoas querem. Timbó, Pomerode, Rio dos Cedros, Taió e diversas cidades do Vale do Itajaí são ótimas para pessoas que querem aliar relativa tranquilidade com boa oferta de infraestrutura. Boa parte dessa infraestrutura é justamente dada pelas cidades-pólo da região. Muitos que reclamam da descaracterização de Blumenau não conseguem ficar uma semana sem um shopping center, por exemplo. E não abrem mão dessa facilidade. Cito como exemplo os moradores do Bom Retiro que não se conformam em ter edifícios residenciais por perto. "A cidade que cresça para outros lugares, eu quero morar do lado do centro sem vizinhos e sem trânsito." Só eu vi tamanho egoísmo ? Se for pelo lado do patrimônio histórico, é mais fácil preservá-lo em conjunto com as construtoras. Mas tal egoísmo prefere ver os casarões caindo de velhos do que ter vizinhos. Se for pelo lado do turismo, de ter uma região arborizada como era no início da colonização, alguém já parou para contar quantos turistas param lá para andar, apreciar o bairro ? Se for pela justificativa do trânsito, ele é intenso com ou sem edifícios novos. Os empreendimentos que lá tentam se instalar são de alto padrão, com 1 apartamento por andar. Geram muito menos tráfego do que qualquer bloco médio padrão "Minha Casa Minha Vida" com centenas de apartamentos por torre. Sentiram nesse exemplo do bairro Bom Retiro como é difícil fazer uma cidade crescer ? Como é difícil essa transição que tem todas as características de uma transição em nosso corpo na adolescência ?
Vamos entender o crescimento da cidade e contribuir para que seja de forma sustentável e organizada. Vamos fazer nossa parte. E pensar no todo.

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