segunda-feira, 7 de julho de 2014

Disputa entre construtoras muda a paisagem de Balneário Camboriú

Busca pela altura e exclusividade são estratégias das construtoras
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Agencia RBS
Assim que soube que teria um dos maiores prédios do Brasil no quintal de casa, o empresário André Guimarães Rodrigues, de Balneário Camboriú, correu para comprar uma unidade e não hesitou em adquirir a cobertura, no 66º andar. No prazo de três anos, ele deixará um apartamento no 14º andar para morar a cerca de 237 metros do solo, no Infinity Coast, que será o segundo prédio mais alto do Brasil. A busca pela altura e exclusividade são estratégias das construtoras em uma disputa que está só começando. Nos próximos anos, a cidade deve ter oito dos 10 empreendimentos mais altos no Brasil.

Os projetos se concentram em duas construtoras: a FG Empreendimentos e o Grupo Pasqualotto. A FG é responsável por seis edifícios entre os mais altos do país, inclusive o maior deles, o One Tower, um gigante de 280 metros de frente para o mar. Apesar do investimento figurar entre os mais altos empreendimentos do país, a empresa não gosta de falar no assunto. Por meio da assessoria de imprensa, informou que não se manifesta sobre o tema, pois não “pretende usar a altura como marketing”.

Alcino Pasqualotto, diretor-geral da Pasqualotto, construtora responsável pelo Yachthouse Residence Club, que aparece em terceiro e quarto lugar do ranking com suas duas torres, garante que não há disputa entre as construtoras, mas admite que “se uma faz, as outras têm de fazer”. Além disso, afirma que há valorização para quem aposta em andares longe do chão.

—Valorizam-se muito os apartamentos mais altos, que atraem clientes. Essa verticalização permite uma área aberta maior, que tenha boa ensolação e ventilação —diz.

Pasqualotto não descarta o projeto de prédios ainda maiores que o Yachthouse, que nas últimas contas da construtora deve alcançar 253 metros e assumir o segundo lugar na disputa pelas alturas do país. A Embraed, apesar de não aparecer no ranking dos mais altos em obras, ergueu o Villa Serena, atualmente o residencial mais alto do Brasil, com duas torres de 160 metros.

— A Embraed se orgulha por ser pioneira e estabelecer um novo sistema construtivo que possibilitou o projeto e execução do Villa Serena. A obra é um marco na região e abre a possibilidade para o desenvolvimento de projetos ainda mais altos — explica Rodrigo Cequinel, diretor comercial da construtora.

Ele acrescenta que está em estudo construir outro gigante na cidade.



Espigões atendem à demanda de mercado
Janio Vicente Rech, doutor em Gestão Territorial e professor de Arquitetura da Universidade do Vale do Itajaí, em Balneário Camboriú, está pesquisando a evolução da verticalização na cidade desde 1964, diante dos diferentes planos diretores. Ele afirma que o fenômeno dos espigões é mais recente e começou há cerca de uma década, impulsionado pelas novas tecnologias.

— A escassez e o custo do metro quadrado dos terrenos para construção na orla da Praia Central incentivam a verticalização, juntamente com os índices urbanísticos — diz.

O secretário de Planejamento da cidade, Auri Pavoni, defende que os gigantes atendem a uma demanda do mercado. Os clientes não querem apartamentos de fundo e buscam, no máximo, dividir o andar com um vizinho. Como no atual Plano Diretor não há restrição de altura, apenas de número de apartamentos por terreno, a saída encontrada foi investir em menos unidades por andar — todos de frente para o mar.
A falta de terrenos disponíveis também impulsiona o fenômeno. A cidade é uma das menores em área no Estado, com apenas 46 quilômetros quadrados.

Skyline de Balneário Camboriú é único e surpreende.
Foto :  Cesar Delong

Voo de helicóptero para conquistar cliente
Para vender os apartamentos nas nuvens é preciso ir às alturas, literalmente. A construtora Pasqualotto utiliza seu helicóptero para buscar clientes e mostrar um pouco da cidade. Eles posicionam o cliente na altura que deve ter o prédio para proporcionar a visão que ele terá da janela do apartamento.

Estratégias como essas são necessárias para atrair clientes mais exigentes e que buscam empreendimentos de alto padrão. Um levantamento divulgado pelo Sinduscon de Balneário Camboriú em 2013 mostra que 46% dos apartamentos da cidade custam mais de R$ 1 milhão.

O preço do metro quadrado também evidencia isso. Em Balneário, em empreendimentos de frente para o mar, o metro quadrado da área total sai de R$ 10 mil a R$ 12 mil — em Florianópolis, por exemplo, a média em Jurerê Internacional é de R$ 8 mil.

Fernanda Godoy é dona da imobiliária Camboriú Alto Padrão. Ela também aposta nos sobrevoos para atrair clientes e freta um helicóptero e para passeios pela cidade.

— Para quem não tem medo de altura e quer algo exclusivo, é ideal — afirma.

Skyline de Balneário Camboriú é único e surpreende.
Foto :  Cesar Delong
Restrições às construções de prédios em Balneário Camboriú serão discutidas na criação do novo Plano Diretor da cidade
Praia ganhou fama de ter horário marcado para se tomar sol
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Agencia RBS
Embora empolguem o setor da construção civil de Balneário Camboriú, os espigões — prédios mais altos do Brasil — podem estar com os dias contados. O novo Plano Diretor começa a ser discutido no município e as restrições às construções, que atualmente se limitam ao número de apartamentos ou taxa de ocupação do terreno, estarão na pauta, assim como os possíveis impactos.

Por conta dos altos prédios, a praia ganhou fama de ter horário marcado para se tomar sol. Para o arquiteto urbanista Jacques Suchodolski esses impactos já são visíveis. Ele defende que os gigantes impõem concentração de tráfego, impedem a insolação de grande área em seu entorno e causam impacto nas correntes de ar. Além disso, acabam alterando a paisagem natural da cidade.

— Esses impactos podem ser mitigados através de um bom planejamento urbano, mas não é o caso de Balneário. Não existe justificativa urbanística para que haja edifícios tão altos numa cidade tão pequena e próxima ao mar, existem justificativas mercadológicas — afirma.

Para Ricardo Fonseca, presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura em Santa Catarina (AsBEA/SC), a verticalização é uma solução para sociedades modernas, porque facilita a mobilidade e diminui o custo da infraestrutura.

— É preciso adensar, e a maneira mais inteligente de fazer isso é verticalizando — diz.

Fonseca destaca que é fundamental analisar o tamanho dos terrenos para os grandes prédios, para que haja afastamento em relação aos vizinhos, além de estabelecer estudos de impacto de vizinhança para saber a influência que essa nova edificação vai causar no entorno imediato.

Skyline de Balneário Camboriú é único e surpreende.
Foto :  Cesar Delong
Reportagem : Karine Wenzel
Fonte: Jornal de Santa Catarina - Link 2

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